quarta-feira, 13 de abril de 2011

FRENTE À DOR

Não prestamos a devida atenção ás coisas que acontecem na nossa vida. Somos ainda muito mais reação do que ação. Não estamos habituados a parar, para tentar compreender o real significado das ocorrências.
Exemplo, a fala e a escrita são meios disponíveis para a comunicação e para definir uma postura pessoal e coletiva frente às situações que se apresentam a cada novo momento; no entanto, estilo papagaio, nós usamos as palavras sem buscar conhecer seu real sentido e conteúdo, consequentemente, entendemos tudo errado, e sofremos as conseqüências disso....

Nosso assunto de hoje é dor, sofrer, sofrimento; embora possam se interpenetrar ou significar situações e sensações parecidas; os termos contém aspectos que as diferenciam, totalmente.
Para começar, o bate papo, vamos ao dicionário estudar o significado de cada uma das palavras:
Dor s.f (Do lat. dolor.) 1. Sofrimento físico ou moral; aflição, mágoa; dó. - 2. Sensação penosa desagradável causada por contusão, lesão ou estado anômalo do organismo ou parte dele. - 3.Angústia, amargura. - 4. Expressão do sofrimento. - 5. Luto...
Sofrer s.f (Do lat. sufferre.) (Conj. [5] 1. Ser afligido por; padecer. - 2. Suportar, tolerar. - 3. Admitir, permitir, consentir. - 4. Ser vítima de, passar por (algo danoso ou desagradável. - 5. P. ext. Experimentar, passar por...
Sofrimento s.m. 1. Dor física ou moral; padecimento, amargura, angústia, aflição. - 2. Desgraça, desastre, infortúnio. - 3. Paciência, resignação.

Para exemplificar: a dor física pode dar origem à sensação de sofrer; mas, uma não é a outra; embora possam confundir-se. No primeiro impacto de um acidente, por exemplo, nem sentimos dor, ela surge algum tempo depois, quando paramos para pensar e interpretar o ocorrido. Essa dor física, pode ser transformada em sofrer, isso, vai depender da interpretação... Imagine, uma situação comum: um trabalhador descuidado sofre um acidente de trabalho e tem um dedo decepado, na hora, nada sente; mas, logo a seguir, alguém diz: fulano você perdeu um dedo! Pronto, é o suficiente para desencadear um sofrimento atroz; ou não, depende do grau de valorização que o trabalhador dá ao seu trabalho; ou ao seu dedo, para uns, é o fim do mundo, já para outros, pode ser o passaporte para receber do Governo ou Sociedade sem trabalhar. Portanto: para uns, dói mais; para outros, dói menos; ás vezes durante um tempo até gera uma sensação de conforto como “coitadinho de mim”- a Vítima!

A diferença fisiológica é que dor física pode ser bloqueada com analgésicos e a sensação de sofrer ou dor moral, não; só passa com o uso da inteligência seguida da atitude de reparação...

A dor interpretada é que fabrica a sensação de sofrer; podemos afirmar que o culto ao sofrer é uma invenção humana com forte componente cultural e religioso, e que, sofrer é um estado de sentir-se e de aceitar ou experimentar.
Só o ser humano pode escolher como sentir-se...
(Essa não é uma frase de efeito, escreva isso em todos os lugares que possa ver; pois isso, pode determinar tua qualidade de vida)
Portanto, apenas o ser humano pode sofrer; ou deixar de sofrer
Escolher entre alegria e tristeza, sofrimento ou felicidade).
Outra dedução é que, a sensação de sofrer ou o sofrimento é outro paradoxo transformado em paradigma pela cultura.
A rigor pode-se afirmar que o ser humano talvez seja o único dos habitantes do planeta capaz de sofrer, de registrar essa sensação, de aumentá-la ou diminuí-la, e até, de livrar-se dela por vontade própria. Os outros animais dão a impressão de sentir a dor, mas não parece que não sofrem com ela nem por ela, nem pela dor alheia...

Então, sofrer é bom ou ruim? É sinal de atraso ou de evolução? - Depende...
É bom que se diga: passamos quase toda a existência tentando nos livrar dessa sensação. Mas; por outro lado, gostamos tanto dessa nossa criação, que ela nos acompanha em quase todos os momentos da nossa vida. Ela está tão incorporada em nós e, na nossa cultura que, desde muito pequenos, aprendemos a cultivar o sofrer com nossos pais e educadores. As pessoas até competem para ver quem sofre mais, qual o sofrer é maior. Nossas sensações de sofrimento passam até, a ser motivo de orgulho; o sofredor compulsivo estimulado por algumas crenças religiosas, acha-se um “herói” que vai para o céu através do sofrimento. Pode parecer piada, mas não é, grande parte das pessoas sofrem de neurose compulsiva pelo sofrimento. Somos um pouco masoquistas, alimentamos a sensação de sofrer. Quem duvidar desse fato, que, freqüente salas de espera de hospitais, pronto - socorro, consultórios para ouvir o tema das conversas das pessoas enquanto aguardam ser atendidos...

Porque abordar o assunto sofrer?
Como quase todas as pessoas que conheci, durante toda vida muito sofri e muito fiz sofrer. Conjuguei o verbo sofrer em todos os seus tempos: passado, presente, futuro, condicional...
Sofri por coisas concretas e também por coisas que apenas imaginei. Sofri por mim mesmo e por outras pessoas. Desde muito pequeno, muitas e muitas vezes, parei para pensar no sofrimento. Mas, confesso, só nos momentos em que sofria... Nessa hora, prometia a mim mesmo que, resolvida aquela situação nunca mais iria sofrer. E conseguia, por alguns minutos, horas, ou dias. Mas, breve a sensação de sofrer retornava.
Ao longo da minha “sofrida” vida, fui colecionando explicações: filosóficas, literárias, científicas, religiosas, populares. Confesso que, algumas delas preencheram os requisitos de entendimento, consolo e resolução. E até o trabalho me ajudou, pois como todo sofredor eu queria tanto acabar com ele, que me persegue, que a nossa briga, eu versus o sofrer acabou na escolha da medicina, cuja base de sustentação ainda é o sofrer humano (um paradoxo). Atuar como médico me põe cara a cara com esse inimigo, o sofrer, o tempo todo. Mas, como diz o ditado popular “Deus escreve certo por linhas tortas” nosso convívio diário facilitou-me estudar e compreender um pouco mais, esse inimigo: o sofrer. Ao questioná-lo, foi possível vê-lo e senti-lo com outros olhos, pois a medicina por estudar o sofrimento dos outros sem um envolvimento emocional tão marcante, pode proporcionar uma visão mais clara das origens do sofrer e, como atenuar ou resolver o problema; para quem estiver disposto a fazê-lo, é claro! Reciclei minha forma de encará-lo: penso hoje, que ele não é nem bom nem mau, apenas: necessário.

Qual a nossa intenção?
Tentar colocar o sofrimento no seu devido lugar. Nem mais nem menos, e contribuir para que nos capacitemos a transformar um inimigo num aliado, num professor, pois aprender com tudo e com todos é um dos motivos do existir. O sofrimento pode ser um mestre na arte de viver como um ser humano de fato, pois podemos usá-lo para fugir dele mesmo.

Paz e luz.

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