quinta-feira, 13 de maio de 2010

A SABEDORIA DO SEUI JOÃO

Sou atraído pelo simples - tenho alguns amigos especiais; dentre eles um paciente que chamo carinhosamente de Pai João; um senhor aí dos seus quase oitenta anos – com jeitão e sabedoria de Preto Velho; ás vezes quando olho prá ele, a impressão que tenho é de estar vendo duas pessoas superpostas; só que a miragem tem cabelos mais brancos.
Da ultima vez que o vi, aprendi mais um pouco.
O que me conta Seu João? – Tudo véio qui nem eu seu moço!
E a família? – Tô aprendendo a lidá cum eles! – Tô quasi virando água!

Seu João é uma daquelas pessoas que conforme o tempo passa consegue transmitir sabedoria a olhos vistos. No começo eu tinha certa dificuldade para entender seu linguajar; mas, com o tempo fui me habituando e até a achar interessante e poética sua forma de ver e de colocar as coisas do dia a dia – em muitos aspectos ele me ajudou a mudar minha forma de ser e de ver o trem do mundo.

Sua vida para quem a assiste de fora tem a impressão de ter sido muito sofrida. Segundo minha forma de sentir as coisas; se nós achamos que temos problemas de todos os tipos e de relacionamento humano; em comparação aos dele; nós nos enganamos; os nossos são de criança e os dele foram de gente grande.

Somos parte importante dos problemas uns dos outros:

De certa forma nossos relacionamentos ainda são mais ou menos complicados tal e qual nossa ecologia íntima; claro que os simpáticos, harmônicos e amorosos de bem querença são ainda raros.
Segundo seu João nós parecemos bodes marrudos dando cabeçada prá ver quem é mais forte. Os motivos são muitos, mas a base é a falta de qualidade pessoal da maior parte de nós; ele diz que somos seres muito interesseiros, “fominhas”.
O que predomina na formação da personalidade ainda são os chamados defeitos de caráter; que a rigor não existem, são apenas nossas características que se entrechocam entre elas e com as dos outros - a maior parte do tempo nossos desejos entram em confronto gerando o mal querer.
Como exemplo: o orgulho, na sua essência, é o amor que sentimos por nós mesmos; ligeiramente aumentado já gera desarmonia com outras pessoas.
Como equilibrar orgulho e humildade?
A tentativa de se tornar humilde à força, logo se torna covardia.
È preciso ser uma pessoa forte e determinada para forjá-la nas lidas e nas conquistas do dia a dia; como fez o seu João. Como ele; o realmente humilde nem sabe que é - desse modo, nem precisa se preocupar em demonstrar essa qualidade – segundo sua forma atual de ver a vida, ele apenas amansou seu desejos; no trabalho da lavoura aprendeu a dar tempo ao tempo e a esperar a hora de plantar e de colher. Diz ele que depois de certa idade a gente perde a pressa e não come mais nada verde nem crú. Dando risada ele diz que quando se vai ficando velho, a gente quer que o relógio ande para trás ou quer que o tempo passe devagar; prá vida demorar um pouquinho mais; daí a gente para prá matutar.

No seu jeito simples, manso e gostoso de falar e de ver a vida como ela é; ele tem suas tiradas que o divertem e a nós também; por exemplo: o rótulo que dá para algumas pessoas que conviveram com ele; é muito engraçado.

Durante a vida ele conviveu com algumas pessoas do tipo:

Pedra no caminho
As que impedem a realização de nossos desejos; atrapalham nossos planos ou estorvam nossas ambições; são tidas e sentidas como pedras no nosso caminho; e pelas quais desenvolvemos aversão, medo, antipatia.
Quem de nós nunca foi ou nunca teve pessoas pedra – no caminho pela frente?
Elas são problema?
Não – pois, pedras podem ser contornadas; atiradas para longe (nem sempre é interessante; pois pode gerar kharma); escaladas (quando passamos a compreendê-las e a aceitá-las como elas são; e passo a passo, vamos encontrando pontos de apoio comuns – nesse caso a satisfação é sempre maior); algumas podem ser galgadas num pulo só. Se as encararmos como obstáculos elas podem nos paralisar; criando um processo de antipatia ou aversão bem mais prolongado.

Segundo Seu João; foi com essas que aprendeu a querer virar água. Segundo ele, ela não perde tempo nem energia tentando afastar os obstáculos; apenas contorna e segue; flui. Essa dica dele foi boa; venho tentando colocar em prática essa forma de viver; e os resultados são bons; dão paz de espírito; e certa calma.
O que ele não me explicou na sua teoria é como algumas dessas pedras do caminho estão volta e meia á nossa frente, de novo. Talvez eu ainda seja uma água elástica, plastificada; finjo que fluí; mas, continuo no mesmo lugar? – provavelmente.
Ou nossas pessoas problema são ilusões? – Ou apenas nosso espelho a se refletir no armário da vida?

Há outro tipo – segundo ele esse é a criatura mais desengonçada:

Mala sem alça
Quando não temos soberania emocional com relação a alguns e pensamos ser, ou nos sentimos obrigados a carregá-los pela vida afora, dizemos que são as nossas malas.
Algumas até sem alça; ou até daquelas que abrem e deitam tudo ao chão.
Nesses casos, a viagem tão esperada no trem da vida; pode perder a graça; e a aversão e a antipatia por termos que carregar a bagagem, podem ser conseqüência da situação, e não um processo primário de interação.
Segundo ele no trem da vida quando a gente combina de carregar uma mala até determinada estação; tem que cumprir com a obrigação prá não voltar prá trás. Se a gente se enfezar e atirar pela janela é pior – vai ter que esperar outro trem (kharma).
Na teoria dele as malas não são pesadas; os carregadores é que são frouxos; quanto mais você pensa que a mala pesa; mais pesada ela fica.

Pior é quando você imagina ser o carregador, mas, é a mala.

Diz ele que no trem da vida prefere viajar quietinho no bagageiro e espiar a vida pelas frestas do vagão (momentos felizes); já que talvez ele mesmo seja uma mala difícil dos outros carregarem.

Perguntei se vale a pena colocar rodinhas na mala; prá ficar mais fácil de levar – disse ele: se você conseguir; mas, o terreno da vida costuma ser acidentado; se em alguns períodos só puxar; na hora de voltar a carregar pode parecer impossível conseguir.

As que deixam lembranças mais sofridas:

Pedra no sapato
Para passear pela vida nem sempre escolhemos o calçado correto – ás vezes nós somos atraídos pela beleza, pelo preço baixo; moda; ansiedade, pressa – e nos damos muito mal.
Pessoas pedras no sapato são matreiras (embalo); entram na nossa vida, assim como não quer nada e até podem causar grandes sofrimentos; pois, só nos damos conta depois do estrago feito.
Esse estilo de relacionamento além de estorvar e retardar projetos ainda causa; machucados e feridas difíceis de cicatrizar se você não jogar a pedra e até o sapato fora.
Também indica uma relação que pode tornar-se antipática ou com sensação de aversão.
Pedras no sapato podem ser mais facilmente descartadas no começo; embora deixem lembranças mais ou menos doloridas durante algum tempo.
Segundo Seu João essas foram as piores que surgiram em sua vida – ele manca até hoje.

Espinho no dedo
Relacionamentos tipo espetar o dedo pelo descuido e pressa, são fáceis de curar.
Esse tipo é mais ou menos ocasional.
Costuma aparecer de relações aparentemente neutras e que pode tornar-se complicadas, isso vai depender do tipo espinho, se pode ser totalmente arrancado ou se será expelido somente após inflamar ou através de uma cirurgia (isolada)...

Predador
São os sócios da nossa infelicidade.
A relação com o predador é sempre seguida de avisos subconscientes que podem ser ou não observados. E se a barreira da antipatia e da aversão é transposta a vítima está em sérios apuros. Surgem da associação de interesses que parecem ser comuns – mas, apenas para a vítima; pois, o predador sabe desde o começo muito bem o que quer.
Segundo Seu João ele foi boi de piranha muitas vezes até aprender – sobreviveu; mas, não aprendeu. Mas, o tempo passa e aprendemos ou aprendemos; hoje ele é boi arisco.

Olho gordo
A antipatia ao tipo que seca até pimenteira é instintivo e automático, alguns se denunciam pelo próprio padrão vibratório e outros conseguem enganar as pessoas apenas durante algumas vezes.
A receita do Seu João prá olho gordo é infalível: viver na moita; pois, quem procura acha; mas, não descarta um banho de sal grosso e um galinho de arruda no bolso.

Nó cego
Os atrapalhados na vida conseguem gerar antipatia e aversão ao longo da interação.
Identificar um nó cego assim de pronto não é muito fácil; mas, trapalhada, após trapalhada é fácil identificá-los; mas, é preciso um mundão de paciência para desatar os nós – arrebentar tudo é o impulso; mas, pode gerar muito kharma.
Segundo a receita do Seu João é fácil escapar antes de começar – quando alguém começa a te tentar enrolar – caí fora!

Caboclo mamador
Segundo Seu João: a meior manera de espantar os chupa cabras; os cabroco mamador é se afastar deles.
Os que costumam sugar a energia dos outros se identificam segundo o padrão vibratório. No entanto há pessoas que são sugadas com regularidade e não se tocam, nem percebem; ou percebem apenas que ficam sem energia quando a pessoa sai de perto.
Seu João não descarta algumas mandingas prá afastar esses bicho: fazer o sinal da cruz nas costas deles – deixar a vassouras de pé atrás da porta quando eles vêm na sua casa – jogar um punhado de sal grosso na porta de entrada quando eles forem embora – rezar um credo; e outras rezas brabas que minha finada mãe me ensinou.
Mas, Seu João e se essas pessoas forem da família?
Aí seu moço; só com muito amor no coração e fé; depois que aprendi isso, só faço o bem quando posso e nosso senhor Jesus Cristo me ajuda sempre. Já fui e já fiz de tudo na estrada da vida até já fui arrogante e vingativo; mas, nunca fiz o mal pros outro de cabeça pensada; também, não era flor que se cheire; era do tipo: bateu levou; eu não levava desaforo prá casa – hoje; não sei o que é desaforo.

É verdade que o senhor sabe a cura de muitas doenças?
Não seu moço; apenas faço algumas coisas que minha mãe Joana ensinou: benzimento de criança contra mau olhado; reza prá buxo virado; banhos e mezinhas com ervas, e outras coisinhas.
Por que eu não me curo?
Tal e qual você seu moço; que vive preocupado em ajudar e cuidar dos outros; e não se cuida nem se cura.
Acho que o senhor é um xamâ!
Sou não; seu moço; já ouvi falá que isso é coisa de índio, de pajé – eu sou apenas um preto meio véio que gosta da vida; das pessoas; das crianças, da natureza e dos bichos – nem escravo eu fui – sou até aposentado do INSS! – Minha mágica é continuar vivo! (rsssss)

Fui convidado prá visitar sua casa (sua tapera) – vou tomar um cafezinho dos bom; ver suas plantas de mezinhas e sua bicharada (faço idéia de quantos sejam – pois, quem gosta de bicho: bom sujeito é).

Depois conto mais – eu espero aprender umas receitas das boas com Seu João que me ensinou a tentar virar água e a plantar na minha cachola uma horta de abobrinhas (essa é muito boa; depois eu conto).

Inté.
Fiquem com Deus e nosso Senhor Jesus Cristo no coração.

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