terça-feira, 20 de janeiro de 2009

EDUCADOS PELA RUA

Há algum tempo meninos e meninas de rua eram consideradas as crianças que viviam mais fora do que dentro de casa; e que recebiam as informações e aprendiam os valores que se praticava na rua, literalmente. Mais especificamente as que usavam linguagem chula, falavam palavrões, não mostravam respeito pelas pessoas nem instituições, andavam mal vestidas e pouco asseadas. A maior parte delas tinha família, mas esta pouco ou nada se preocupava com elas; entretidos os pais com seus afazeres ou a sobrevivência; os motivos para o descuido como os filhos eram os mais variados. Em tempos idos, alguns aspectos bem marcantes distinguiam as crianças de boa família e as de rua; hoje nem tanto; elas tem comportamentos e fala mais ou menos padronizados pela mídia.
Antigamente a maioria das crianças de rua tinham um teto para morar e o básico de alimentação; mas na atualidade as crianças de rua foram substituídas em grande número pelas crianças moradores de rua; ou seja essas crianças não apenas são educadas pela rua como vivem nela, sem abrigo físico e muito menos moral; e por incrível que pareça, algumas por opção. Claro que a vadiagem ou a luta pela sobrevivência na rua fabrica delinqüentes mirins que terminam na cadeia ou caem rapidamente nos vícios cada vez mais mortais, a probabilidade de morte precoce ou assassinato para elas é muito grande.
Mas, vivemos um paradoxo; pois a educação de rua se generalizou e pasteurizou; pois nestas últimas décadas, vivemos uma ampliação fantástica da educação de rua, muito mais insidiosa e perigosa; pois com o advento da mídia de ação rápida e especialmente da TV, o conceito de criança educada pelas leis e valores da antiga educação de rua modificou-se de forma radical. Hoje mesmo em famílias razoavelmente estruturadas as crianças são educadas pela nova e ampliada rua; ficam muitas horas de frente á TV e da NET, são criadas em berçários, creches, pela empregada doméstica ou pela avó. Na moderna luta pela sobrevivência alguns casais levam uma vida parecida com o casal do filme "Feitiço de Áquila", onde o moço transforma-se num lobo á noite e sua amada num falcão durante o dia e eles apenas quase se tocam no lusco – fusco, na transição do dia para a noite – em muitas famílias quando o marido está chegando do trabalho a esposa está saindo para ir trabalhar. Claro que isso levou a um relaxamento de valores no reduto doméstico; e os da ética e da moral que são postos na temática do entretenimento infanto – juvenil e adulto são questionáveis; e muitas vezes nem os próprios criadores e diretores sabem explicar bem suas intenções com determinadas cenas e seus desfechos – além disso, as crianças só não assistem a todos os programas se não quiserem, de violência a sexo explícito; pois, a maior parte das famílias de todas as condições sócio – econômicas não têm estrutura de valores e nem regras que sejam cumpridas por todos; mesmo para selecionar o que a criança deve ou não assistir; na verdade, nem famílias nem instituições querem arcar com o ônus da regulamentação e, todos enquanto sociedade, fingimos que não está acontecendo nada – é cômodo para quem tem obrigação de se posicionar usar o conceito de livre arbítrio do povão; vê, ouve e assiste quem quer! – simples assim? – Provavelmente vamos nos arrepender com amargura desse descuido; e nem demora; pois, o resultado gerado pela aplicação dos conceitos fast-food de valores da ética e da moral pelas crianças educadas dessa forma há algumas gerações, está á nossa frente o tempo todo, nos noticiários; e na forma de comportamento dos sociopatas até de colarinho branco e engravatados que vivem á nossa volta, usando o poder do dinheiro e dos postos de mando; e com seus desmandos passam muitos anos explorando, espalhando miséria, dor e sofrimento, sombra e ruína ao largo da justiça. Muito se fala e pouco se faz; ouvem-se muitas frases do tipo: - Onde o mundo vai parar desse jeito! E outras do tipo.
Até nos espantamos com o que está acontecendo com as crianças em se tratando de precocidade. No terreno das doenças e distúrbios, elas já sofrem de doenças de adultos de todos os tipos: dos problemas psicológicos, distúrbios do comportamento, ás doenças físicas. Quando buscamos explicações fazemos questão de esquecer importantes detalhes, tais como esse da nova educação da rua e sua influência na formação de hábitos, vícios e valores. Quando não estamos a fim de tomar decisões e atitudes contundentes usamos o surrado chavão: Besteira! – Nada a ver! - Parece coisa de ficção científica com um que, de pastelão: crianças criadas confinadas entre quatro paredes recebendo basicamente educação de rua. A versão moderna e meio punk de João e Maria sendo engordados pela bruxa malvada (família) ou melhor... Observando com cuidado nossa fala e a das pessoas em torno ficamos de cabelo em pé de tantos paradoxos; por exemplo: Dia destes recolhi de uma conversa entre um pai e seu jovem filho que havia aberto uma empresa e estava andando por um caminho não muito recomendável; algum material para refletir. O pai foi categórico: - Filho, neste país se você quiser roubar; roube bastante para não ir preso; pois, se tiver muito dinheiro paga um bom advogado que conhece bem as brechas da justiça – no seu caso; se sua empresa continuar pequena você vai preso; mas, se você fizer com que ela cresça, suas dívidas serão perdoadas pelo fato social, a tolerância vai aumentar muito devido aos empregos que gerou; fui claro?
A moderna educação de rua cria disparates e incongruências das quais vamos nos arrepender como sociedade; com certeza. Por exemplo, a lei de "Gerson" que sinaliza que devemos levar vantagem em tudo, é uma das mais valorizadas e respeitadas; a vida das pessoas passou a valer o que elas carregam no bolso. É mano! Enfim, estamos colhendo os frutos do plantio da educação de rua.

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