sexta-feira, 13 de março de 2009

VIRAR ÁGUA

TORNAR-SE ÁGUA


Sonhamos nos tornar fortes e rijos como uma rocha; na busca desse sonho empedramos nosso raciocínio, nos tornamos pessoas endurecidas, dogmáticas, inflexíveis, intolerantes, teimosas. Nossa consciência não tolera que haja outra mais rija do que ela e os embates se sucedem em constantes atritos e esfacelamentos; não descansamos enquanto não sejamos a rocha mais alta, forte e bonita do pedaço.
Por que isso aconteceu? Por que desejamos nos tornar fortes e seguros?
Talvez ao perdermos a consciência de que somos seres aquáticos – nosso eu superior está imerso em água. Dos quatro elementos (fogo, ar, água e terra) 70% de nosso corpo é composto do elemento água – nosso desejo de viver apenas em terra firme nos tornou rígidos e deslocados.
Não precisamos de segurança; ela está em saber quem somos nós; para onde iremos não importa, pois somos um e todos ao mesmo tempo.
Nosso lado rocha desenvolveu atitudes, segregou-se; nossa parte água tem consciência de ser um todo, gotas não se isolam, não se desagregam, aceitam todas as que se juntam pelo leito da vida; simplesmente são parte do mar universal (energia).

O momento presente exige que resgatemos nosso lado água a começar pela renovação dela em nosso corpo. Beba apenas água nenhum outro líquido, da maior pureza que consiga obter. Não estagnemos nossa água; isso representa morte – tal e qual a vida a água deve fluir incessantemente; sempre.

Nossa consciência precisa recuperar a fluidez do elemento água e sua versatilidade; ela não perde tempo nem se desgasta tentando afastar pedras do caminho, não empurra obstáculos; apenas contorna e flui. Para ela não há passado nem futuro, apenas o momento presente. Mesmo quando o momento exige depuração sob a ação da força dos outros elementos, ela se torna caudalosa e avassaladora; mas não olha para trás para ver o que restou; logo adiante volta ao estado original, apenas flui mansamente ou divertindo-se nas corredeiras, nas cachoeiras, espreguiçando-se ao sol, espreitando as estrelas, deliciando-se com a paisagem.
Sejamos como a água; não percamos tempo arrastando as pessoas para nossa forma de ver a vida; não tentemos salvar, converter, convencer pessoa alguma a pensar como nós; libertemo-nos de padronizações, instituições, jugos. Não nos preocupemos com a contaminação de idéias, padrões e atitudes que nos foram ensinadas; façamos como a água que aproveita os obstáculos do caminho e as amigas plantas para se depurar e oxigenar – aprendamos a usar os problemas, as dificuldades, crises e injustiças para depurar nossa consciência, oxigenando a alma com a fé, a esperança e o amor.
Vamos nos preparar para os dias de insegurança e fúria dos desejos que estão a caminho; abramos mão do nosso sonho de rochas imbatíveis, aprendamos a viver um dia de cada vez para abandonarmos o desejo inútil de segurança; pois viver é uma fantástica aventura; estar vivo já é estar correndo perigo - Mas o que é o nosso perigo? – A perda do orgulho, do egoísmo de deixar de ser uma rocha imbatível?
Para ilustrar: a criança que mora em cada um de nós representa bem o elemento água; quando os adultos tentam corromper sua pureza com padrões de atitudes tão malucos que nem eles mesmos praticam; ela se defende: entra por um ouvido e sai pelo outro e ela apenas flui; faz o que deseja. Resgatar esse lado do elemento água infantil é uma boa escolha – Ouça as pessoas; mas faça ouvidos moucos e siga seus desejos.
Nestes dias escuros e tormentosos que se avizinham as rochas serão esfaceladas, tornar-se-ão grãos de areia dia após dia. O momento é de nos entregarmos ao elemento água...
Mas, como sempre há um requisito a preencher: só será capaz de virar água, quem souber quem é...

Carregue consigo o grãozinho de areia que representa seu elemento terra.

Tchibum!
Que delícia!
Mergulhe de cabeça no seu elemento água...


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