A maior parte de nós está num estágio de consciência mais ou menos semelhante; daí que aquele chavão usado: “Família é tudo igual; só muda de endereço” – continua válido.
Um dos problemas familiares mais mal administrados que vejo no cotidiano de médico de famílias, é a rivalidade entre irmãos.
No princípio o sentimento envolvido na disputa é o ciúmes; cujo gérmen é a pouca maturidade da criança naturalmente egocêntrica e captativa – mal administrada, ao longo do tempo, a relação evolui para o destrutivo sentimento da inveja.
A origem básica desses problemas, é a falta de preparo dos pais para receberem os filhos; a maioria desconhece o básico; coisas bem primárias como a diversidade humana e as tendências inatas de comportamento de cada um; que nada têm de herdadas de forma genética pura e simples (seria o mesmo que chamar o criador deste universo de humanóide) – Alem disso, poucos se interessam em estudar cada filho nos primeiros anos de vida; para ajudá-los a desenvolver seus projetos de vida num ambiente de calma, respeito e fraternidade.
Mesmo em famílias razoavelmente constituídas:
Os problemas entre irmãos começam a se formar ao nascimento do primeiro; que concentra em si todas as expectativas do jovem e inexperiente casal, ou até, de toda família.
Os pais esperam mais do primeiro filho do que dos outros; por isso, na maior parte das vezes, junto com amor e carinho; ele recebe pressão para realizar as expectativas dos pais ao longo de sua vida.
No tocante ás expressões de amor materializadas nas coisas sem muito sentido; preocupam-se mais com ele; ganha muito mais brinquedos do que sua capacidade de brincar permite; tiram mais fotos dele; do que os outros. Alguns pais se espantam e até se ofendem quando anos mais tarde os filhos mais velhos lhes atiram na cara que não foram tão amados quanto seus irmãos.
Quando nasce um irmão, o primeiro já sobrecarregado de expectativas; ainda ganha um rival: perde para o mais novo boa parte da atenção da família. Ao longo dos anos; sempre ele tem que ceder nas disputas; apenas pelo fato de ser alguns meses mais velho...
Ao longo da vida, os irmãos disputam entre si mesmo já adultos, sem o saber, o afeto dos pais.
O afeto equilibrado é um fator capaz de atenuar a estressante rivalidade entre irmãos; portanto, a atitude afetiva dos pais, consciente ou inconsciente, na relação com os filhos é determinante para um relacionamento saudável entre os membros de uma família.
A camaradagem a cumplicidade afetiva pode nascer naturalmente numa estrutura familiar quando os pais estimulam os filhos a defender o próprio eu; reforçando suas qualidades e habilidades; e incentivando-os e mostrando-lhes que podem ser felizes aceitos e amados com suas características próprias, qualidades, defeitos e individualidade. Neste contexto de aceitar a todos como são realmente, é difícil que a rivalidade encontre campo para se instalar; pois, cada um sentirá que tem seu próprio espaço sem precisar “roubar” o do outro.
Algumas dicas para diminui a rivalidade entre irmãos:
Preferências:
Não provoque situações inúteis que com certeza ficarão mal resolvidas.
As clássica frases: “Tem filho que a gente gosta mais do que o outro” – “Gosto de todos de forma igual” devem ser evitadas em qualquer situação.
O filho preferido é visto como privilegiado e invejado; mas ele também sofre - sente-se culpado; deslocado; e pode se punir por isso; pior, ainda lhe é negado o afeto dos irmãos. Ao desenvolver a consciência, sente que quem o preferiu não sabe amar os outros; nem a si mesmo e perde a confiança nesse amor. Embora nada justifique a ingratidão dos filhos para com os pais – isso, é falta de qualidade de caráter – muitos idosos abandonados em asilos ou nos quartinhos dos fundos da casa; cometeram esse desatino na formação dos filhos.
Os danos emocionais desta conduta doentia atinge toda a família e ainda seus descendentes.
Quanto a dizer que gostamos igualmente de todos, é preciso vigilância nas atitudes; pois, gostar igualmente de várias pessoas tão diferentes é enganar-se; já que é impossível para nossa condição atual.
Comparações:
Devem ser evitadas quaisquer comparações, como as do tipo “fulano é mais estudioso; enquanto beltrano é um desastre e só tira notas baixas” . Muitas vezes o esforçado é um estressado com baixa estima; e por isso mesmo se esforça tanto por não acreditar em seu potencial natural. Já as notas baixas do outro pode ser apenas um pedido de socorro por falta de afeto; e não um sintoma de vadiagem ou falta de inteligência.
Aprender a conversar com cada um em separado é uma atitude inteligente.
Críticas a quem estiver ausente é burrice e sinônimo de pobreza de caráter.
Identificações doentias:
Os pais e as mães costumam projetar nos filhos suas vivências de satisfação e de frustração.
Pais que receberam pouco afeto da sua família; dificilmente conseguirão demonstrar afeto pelo seu primeiro filho.
Cuidado para não projetar seus desejos de glória num filho e de fracassos em outro.
A semelhança física ou de temperamento dos filhos com membros da família antagônicos e que causaram sofrimento ao pai ou á mãe; costuma ser projetada como se o mesmo fosse culpado do que a outra pessoa fez.
Atenção e afeto:
Toda criança precisa de atenção e afeto até mais até do que de alimento, para tenha um desenvolvimento físico e emocional saudável.
Ajuda terapêutica:
Os pais que se sentirem incapazes de lidar com a rivalidade já instalada dos filhos devem procurar ajuda externa; pois, sem dúvida, são parcial ou totalmente responsáveis pela situação.
Resolvendo brigas:
Os irmãos que vivem em brigas e agressões físicas não precisam apenas de limites, punições ou repreensões. Precisam de atenção e afeto e, muitas vezes, de tratamento psicológico porque estão transferindo para os irmãos ressentimentos e frustrações que surgiram ou foram reforçadas por falta de afeto dos pais.
Distanciamento saudável:
Para driblar a hostilidade entre irmãos, uma solução paliativa é o distanciamento temporário entre eles; como horários de atividades separadas.
Parabéns ás famílias que conseguem uma relação amorosa; senão respeitosa entre irmãos; especialmente se houver alguma herança para ser dividida; aí o bicho pega – e quanto menor a herança maior a encrenca...
Tem artigo novo no meu bloog – Construindo a família do futuro. “’Órfãos de pais vivos x Filhocentrismo”.
Parabéns pelo artigo. Claro, objetivo e muito bem redigido.
ResponderExcluirMuito interessante!
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