DE QUE ADIANTA APENAS MATAR FOME?
Dia destes, na TV do metrô passou uma propaganda da prefeitura de Sampa.
Realmente não guardei o jingle; mas a idéia era: leite para os menos favorecidos.
Pelo que entendi na ocasião, o programa visa distribuir milhares de litros de leite, entregues em casa para o pessoal cadastrado; para garantir o “leitinho das crianças”.
Claro que a intenção é louvável; mas, como todas as escolhas na vida, a relação custo benefício pode deixar a desejar em se tratando da saúde do organismo das crianças.
O que mata a fome também pode matar a saúde.
A “bóia” de grande parte da criançada da periferia costuma ser um mata fome do tipo: leite (com achocolatado), pão e uma bolacha recheada e colorida. Ainda bem que as prefeituras fornecem refeições mais nutritivas nas creches e nas escolas.
Voltando á questão do leite.
A intolerância á lactose sempre foi um problema; evidente que, no momento presente mais intenso do que em épocas passadas, tantas são as proteínas estranhas e venenos que engolimos a mais. A questão da alergia á lactose está relatada em livros de medicina chinesa de milhares de anos atrás; e não é apenas isso, por exemplo, além de tudo, segundo eles, o leite de vaca nos torna mais preguiçosos e lentos do que já somos – Parece que tem um fundo de verdade: quando ingerimos a carne ou o produto de uma raça animal vem junto a energia que compõe o psiquismo do bicho – Será? – Já ouviu falar que sopa de barbatana de tubarão e de piranha tem propriedades afrodisíacas? Dizem que sim; se usados com freqüência – parece lógico, pois são predadores e essa energia pode afetar a libido, começo a crer que sim. Mas, por outro lado, observando as pessoas mais carnívoras, as que não passam sem carne na refeição e vivem em churrascarias; pode ser impressão minha; mas ficam com aspecto físico e comportamental de boizões.
Efeito colateral.
Analisando possíveis efeitos colaterais do “louvável” programa da Prefeitura de Sampa: a criançada com a dieta baseada no leite de vaca vai desenvolver, com mais facilidade e intensidade, quadros de rinite, sinusite, bronquite e IVAS virais ou bacterianas, uma atrás da outra. Poucas proteínas estranhas são mais eficientes em produzir muco do que a do leite de vaca. A rotina é essa: corre ao PS ou a posto de saúde e recebe mais uma carga de alérgenos na forma de remédios para “curar” e tudo pode ficar pior.
Boa parte das crianças com doenças alérgicas repetitivas, as ites da vida, teriam a cura ou uma melhora significativa, apenas mudando-se os hábitos; com a retirada especialmente do leite, produtos lácteos, achocolatados, doces, pão, e alimentos recheados de corantes, estabilizantes, etc. Para ajudar a reciclar os hábitos; os produtos á base de soja que seriam em teoria um substituto do leite de vaca, estão mostrando que, especialmente tudo que se origina da transgênica pode ser pior.
Trabalhei alguns anos em Postos de Saúde da periferia; e sei como é viver ali; não é fácil não.
Aprendi muito; mas também sofri muito, por exemplo: muitas vezes não tinha jeito, o único remédio a prescrever para as crianças era a maldita Benzetacil; tomei algumas na infância e odiei; detestava o farmacêutico; esperneava (mãe de enfermeira e de farmacêutico era mais xingada que as de juiz de futebol) – Mas, nas que mandei aplicar com dor no coração, não havia outro jeito, não era possível para a família comprar receita; e medicação via oral não dava certo, pois após o período de febre esqueciam de dar a medicação até o final reforçando o problema da resistência bacteriana.
Na época já havia o programa da complementação do leite, e o pessoal se espancava para levar o leite em pó (em época de “vacas magras” tínhamos que chamar a polícia para manter a ordem) - A situação era muito punk, as grávidas só faziam o pré-natal para poder receber o “leite” cuja cota dava para poucos dias; desmamavam precocemente seus filhos (amamentar é coisa de pobre; diziam de forma subliminar, empresas que abusaram da propaganda de bebes vencedores tomando o leite em pó) – Elas, as mães, depois, continuavam com a puericultura para continuar recebendo o produto que contribuía para aumentar as filas de atendimento ás crianças.
Como dizer isso a elas?
Bem que tentei durante seis longos anos; mas, desisti, pedi demissão; mas continuo vivendo o mesmo drama em situação um pouco diversa; pois a intolerância á lactose não atinge apenas os mais humildes.
Inegável que os argumentos a favor do programa sejam válidos:
Essas famílias não têm recursos - daí; melhor o leite do que nada.
É vero; em boa parte delas o chefe de família é a mãe, que ás vezes passa boa parte do dia nas “conduções da vida” e, depois da luta diária pela sobrevivência chega á casa morta de cansaço; daí esses alimentos além de caberem no orçamento doméstico ainda são práticos; e também, as crianças não aceitam outras coisas (sic) – Hábitos são herdados e, crenças são fomentadas por interesses, nem sempre saudáveis.
Provavelmente as famílias inscritas no programa vivam na linha da pobreza ou abaixo dela. Claro que a soma de todos os programas sociais em andamento tenha mudado a vida de muita gente; isso é inegável; mas ainda é muito pouco. Por exemplo, o destino de boa parte dessas crianças não é tão incerto assim.
Uma parcela não completará 3 anos de idade; muitas irão engrossar as estatísticas de viciados e moradores de rua; os que passarem da adolescência farão parte das estatísticas dos jovens assassinados (maior causa de morte entre jovens em Sampa).
Claro que algumas que conseguirem chegar á vida adulta conseguirão ser “inseridas” na sociedade com oportunidades de trabalho. Mesmo assim, o paradoxo é absurdo – pois, a maioria vive no fio da navalha entre a inserção social e a vida marginal em todos os sentidos. Caso caiam na marginalidade sorte dos que forem julgadas; pois podem ir morar numa penitenciária onde receberão, enfim, cuidados básicos na vida como pessoas de verdade: disciplina de horários, oportunidades de parar para pensar e reciclar valores, parar para pensar em Deus, aprender uma profissão, direito a lazer, uma dieta equilibrada e comida de qualidade (pesquisei o que as penitenciárias compram das empresas; alias são bons clientes, pois são exigentes na qualidade e pagam em dia).
Enfim, depois de muito errar, lhes são oferecidas oportunidades que deveriam ter recebido na infância. Antes tarde do que nunca – Será? Claro que não; pois no Hospício chamado “Sociedade”; nada pode ser simples, nem funcional. Há um problema: saindo de lá, sem muita opção, o sujeito volta. Qual a saída? - Cometer pequenos delitos? – Não, pois lá você só é respeitado se for muito mau, cruel até – Isso dá status.
Por que não investimos maçicamente recursos do coletivo (dinheiro publico) nos primeiros anos de vida das nossas crianças? – Creio que muitos já se fizeram essa pergunta. Se, idéia fosse adotada com coragem e vontade, sairia muito mais barato para todos nós; em todos os sentidos. Uma limitação á atitude, é que muitas pessoas que poderiam fazer algo se imaginam imunes á violência; acham cômodo pensar que violência é caso de polícia e não de educação.
Nas creches, nas quais deveriam sobrar vagas e não faltar, seria o local mais possível de reciclar a dieta e o comportamento do futuro da sociedade.
Você é o que come e como o faz pode ditar seu futuro.
Claro que não é apenas com comida que resolveremos nossos problemas sociais.
Mas como nós alimentamos nossas crianças fará toda a diferença na qualidade de vida pessoal e coletiva. Pois, onde não há cuidado nem respeito não há amor e; onde ele não está presente surge violência e desrespeito pela vida, em todos os sentidos.
Conforme colocamos em nosso livro: “Quem ama cuida” Ed. Petit - Não há melhor recurso pedagógico para formar um ser humano do que o ato de comer, pois comemos todos os dias, várias vezes ao dia. Claro que para todo desafio há solução; e, muitos programas instituídos em todas as áreas do governo estão dando bons frutos; basta apenas investir mais neles e isolar a área social dos interesses dos políticos.
Há várias Entidades Filantrópicas e ONG executando projetos interessantes, inteligentes, baratos e viáveis (claro que não desprovidos de interesses pessoais e grupais) – Num deles, uma central recebe doações de alimentos perecíveis os recolhe e, distribui ás associações de bairro cadastradas. Outro programa que só recebe elogios é o “Bom Prato” do governo estadual – Então, por que não colocar mais unidades em local próximo ás regiões carentes? – E, o que impede a organização de cozinhas comunitárias nas regiões carentes sem conotação política?
Antecipando a fala dos críticos de língua afiada e braços cruzados:
É indiscutível que esse tipo de assistencialismo é inócuo, e nocivo, pois torna as pessoas mais preguiçosas (carentes na evolução humana) e mal agradecidas do que já são; se, a criação de oportunidades não vier acompanhada de um projeto de educação de longo prazo; pois, educar nada tem a ver com apenas instruir conforme colocamos em nosso livro: “Educar para um mundo novo”.
Outro argumento das pessoas é a ingratidão e a falta de educação básica das pessoas carentes: - São uns mal agradecidos!
Tenho um amigo empresário que comprava marmita da melhor qualidade para seus funcionários e a reclamação era constante: tudo os descontentava: porque a carne estava dura, etc, etc. O que ele fez, cortou esse benefício e os que antes tinham uma refeição de qualidade melhor, agora comem arroz com ovo quando é possível. Tentei dizer que boa parte da população é carente não apenas de recursos, mas principalmente de educação e respeito; minha opinião é que ele deveria persistir fazendo sua parte, especialmente o que manda o coração.
A penitenciária mudou de lugar no espaço tempo: os teoricamente bons cidadãos estão se tornando prisioneiros cercados de defesas contra os que estão nas ruas.
A vida nos coloca em situações de aprendizado humano diferentes, temos que nos apoiar uns aos outros; mas, a parte da sociedade que poderia fazer algo que valesse a pena é pouco ética e muito interesseira.
Canso de ouvir por aí: - É preciso fazer mais cadeias! – Lugar de bandido é na cadeia! – A pena de morte seria a solução! – As pessoas esquecem que não adianta se esconder atrás de grades, altos muros e cercas elétricas, elas, seus filhos e netos vão trombar nas esquinas da vida com os menos favorecidos pela sorte. Nós trabalhamos feito pessoas alucinadas; atropelamos todo mundo no trabalho para conseguir pagar os impostos e consumir, consumir.
Para as crianças da classe média e alta, as armadilhas da dieta são as mesmas e, ás vezes, mais perigosas.
Qual a dieta das crianças no berçário ou na escolinha maternal particular?
Será que as crianças pobres adoecem mais do que as outras?
Louvável a intenção do pessoal da PM de Sampa – Mas, outras soluções também são viáveis, sem prejudicar tanto a saúde da molecada e sem colaborar tanto para a destruição do meio ambiente.
Gostei muito, amigo.
ResponderExcluirSe mais pessoas assumissem a sua parte no social, deixando de lado as críticas e sugestões cômodas e fossem mais pró ativas, seríamos
certamente melhores.
abraço,
Ana