domingo, 18 de maio de 2008

NÃO TENHO TEMPO PARA MAIS NADA

NÃO TENHO TEMPO PARA MAIS NADA

Amigos, perdão pela demora em retornar – coisas do moderno estilo de viver - Eu também cai nessa armadilha: a falta de tempo. Trago algumas reflexões sobre o assunto para que possamos trocar idéias.
Hoje, para nós que adotamos o estilo moderno de viver o dia precisaria de pelo menos trinta ou quarenta horas para que nossos velhos e novos compromissos pudessem ser atendidos. Por que nos atrapalhamos tanto com isso? Talvez pela tentativa de viver no presente baseado em conceitos de ontem; que sempre foi possível até alguns poucos anos, pois o fluxo dos acontecimentos era relativamente lento; daqui em diante, isso pode representar um perigo para a qualidade de vida e até para a própria existência. Pois, estamos travando, literalmente travando em vários aspectos, dentre outras coisas, por não entendermos o conceito tempo, senão segundo uma visão linear. Calendário e relógio marcam um espaço de tempo convencionado e não absolutamente real.
A cada dia que passa temos a sensação de que a passagem do tempo se faz mais rápido do que antes. Como aliviar?
Para entendermos as razões disso, basta agregar ao nosso conceito linear de perceber o tempo, algumas visões que nem são tão novas assim (Em 1905, Albert Einstein publicou a sua Teoria Especial da Relatividade).
- O tempo não é linear, nem absoluto. O tempo é relativo.
Não se pode falar de tempo ou de espaço, mas de espaço/tempo.
Tempo e espaço são elementos para descrever fenômenos.
O tempo depende da ordenação por um observador de uma série de eventos.
Dois observadores diferentes que se deslocam a velocidades diferentes; podem ordenar as experiências de forma diferente e até invertida.

Para ordenar nossas vivências mais antigas e tentar compreender as em andamento, podemos conceituar que o tempo real seja a experiência em andamento; Desse modo podemos agregar a parte subjetiva; pois em se tratando de vivências o estado psicológico e afetivo do observador pode mudar a percepção do tempo decorrido; e a forma de ordenar os eventos para medir o tempo torna-se também subjetiva. Depende da interpretação do observador.
Sob essa ótica, algumas dúvidas podem ser respondidas até com facilidade. É possível gerenciar o tempo? A afirmativa de que podemos criar tempo ou arrumar tempo, é verdadeira? É possível arrumar tempo para tudo?
A resposta é sim para quase todas as questões, basta que analisemos alguns fatores que formam nossa visão de mundo atual:

ESTILO DE VIDA

No mundo contemporâneo, as crianças são submetidas a um sistema de educação que privilegia a competição. Desde muito cedo começamos a correr contra tudo e contra o próprio tempo, desagregando e aprendendo a sermos tristes ou amargurados.
A vida infantil normal ou sem neura, é o protótipo do que deve ser a vida do homem: alegre, feliz, uma saudável, criativa e responsável brincadeira.
O sistema de educação atual tira isso da criança enchendo-a de expectativas e compromissos que não escolheu nem pediu.
Sob o domínio da alegria e do prazer de viver a passagem dos eventos é ordenada de forma diferente e as pessoas nem percebem o tempo passar.

EXCESSO DE INFORMAÇÃO

Somos induzidos a acreditar que a informação é tudo. Apenas se torna um vencedor quem detém a informação. A cada dia surge um novo tipo tecnologia capaz de informar com mais velocidade.
Excesso de informação deturpa a percepção do tempo, é como excesso de alimento: intoxica e até mata.
Sob a pressão de um volume excessivo dela nossa mente perde a capacidade de ordenar de forma adequada os eventos deformando o eixo do tempo.

PRESSÕES SOCIAIS

O medo de ficar de fora do que está acontecendo no mundo, de ficar para trás, de não usufruir das novas tecnologias, dos novos prazeres, do novo conforto é alimentado ao extremo pela mídia e todos os veículos de informação. Toda a formação profissional baseia-se nesse tipo de conquista. Isso faz com que as pessoas não tenham tempo para mais nada; exceto para amealhar recursos para consumir.

PRESSA

A ansiedade é um mecanismo mental/emocional. A pressa é a sua materialização na forma de atitudes e trabalho.
A pressa nos leva a tentarmos fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Sob seu comando tudo que fazemos é mal feito. Deturpamos e roubamos o próprio tempo, pois nessa condição não criamos nada novo e realizador; apenas refazemos sem cessar; num infindável recomeço.
Nunca confiemos nas realizações das pessoas apressadas. Se nosso trabalho depender do trabalho de alguém assim, vistoriemos o que ela fez para nossa própria segurança.

SEM TEMPO PARA PENSAR

Nossa maturidade psicológica, nos seus vários componentes, deixa a desejar. O volume de informações congestiona a capacidade que já detemos de escolher as experiências que desejamos viver, daí passamos a ser comandados pela mídia e o marketing que nos ajudam a criar necessidades, tão inúteis quanto desnecessárias.
Sob a pesada influência do pensamento mágico misturamos causas com efeitos. Pensamos pouco nas conseqüências das escolhas. Cremos e somos induzidos a tal: a acreditar em soluções simplórias para resolver os problemas que criamos tanto para nós quanto para os outros.
Assentamo-nos na mentira e na desculpa perante a própria consciência: todo mundo faz; então devo fazer também.

OBJETOS DO DESEJO CADA VEZ MAIS VOLÁTEIS

O estilo de vida atual é uma máquina infernal de criar expectativas e desejos tão desnecessários quanto inúteis. Da antiga e saudável esperança das pessoas, a cultura retirou a necessidade do planejamento e do trabalho em cima da realidade e das possibilidades de cada um. Criou-se um “monstrengo emocional”: a expectativa recheada de ansiedade e medo dela não se realizar. Isso deu margem a uma alienação e exploração chamada loteria, sorteios, programas de comunicação que iludem as pessoas, aos milhões, com sonhos possíveis apenas para um ou outro. Baseadas em técnicas de venda para explorar essa incapacidade delas de discernir entre a verdade e a mentira, entre a ilusão e a realidade.
Para os milhões de indivíduos alienados pelas expectativas inúteis a passagem do tempo tornar-se deturpada e doentia.
Quando vivemos uma vida sem esperanças verdadeiras e que não desejamos nem gostaríamos de ter, a insatisfação deturpa a percepção do tempo. O acúmulo de frustrações torna as pessoas irritadiças, amargas, frustradas, cruéis consigo e com as outras. Sentem-se vivendo num inferno onde o tempo não passa.
Deprimem-se feito crianças de mal com a vida e com o mundo. Ficam emburradas, como que á espera da morte chegar. Isso cria um clima psicológico devastador, pois tem tanto medo da morte que até anseiam por ela; no entanto fingem, brincam de faz de conta que ela não existe.

COMPROMISSOS

A ânsia de nos tornarmos vencedores invejados e elogiados o mais rápido possível, faz com assumamos tantos compromissos desnecessários e até inúteis.
Assumimos compromissos na base do impulso de momento, no embalo; e logo nos arrependemos. Covardes, ou com medo de desagradar aos outros nem sempre desfazemos os que nos infelicitam e que são estéreis.
Um dos motivos importantes para tantos compromissos inúteis que nos roubam o tempo, tornando-o cada dia mais escasso é a pobreza de discernimento e a ignorância de quem somos e o que fazemos aqui.

PREOCUPAÇÕES

Preocupação é a sensação de ansiedade mais medo, misturada a uma certeza de que nossas expectativas e desejos não são merecedores da realização, por falta de empenho, de lógica, de merecimento, de legalidade.

FALTA DE SOBERANIA EMOCIONAL

Fomos treinados a viver a vida dos outros para fugir das decisões e mudanças que precisamos realizar na nossa. De uma relação natural e inexorável de interdependência criamos relações de co-dependência, simbiose, parasitismo e vampirismo psíquico e emocional.
A ilusão é que podemos gerenciar e controlar a vida dos outros. A mentira é que a preocupação com os outros ou a co-dependência de seus sofrimentos e problemas vai levar alguém para o tal de céu; e assim desperdiçar o tempo vivendo situações alheias e não sobra tempo para cuidarmos das nossas.

ANSIEDADE

A ansiedade doentia do mundo contemporâneo é fruto da nossa incompetência em gerenciar a própria vida.
Quando permitimos que outra pessoa nos proponha desejos, necessidades, problemas e soluções que são dela; nesse caso, somos merecedores de viver ansiosos, angustiados, depressivos, em pânico.
A ansiedade doentia ou pressa de quem não sabe quem é, e o que quer para si, é um dos fatores da percepção deturpada do tempo.

MEDO

O medo doentio é um filhote da cultura que reforça nosso temor e ansiedade para que, depois alguém nos venda “baratinho” a solução em suaves prestações e, concorrendo a um objeto dos desejos por dia.
Medrosos, travamos a própria vida e paralisamos nosso progresso. Na vã tentativa de fugir dessa situação sem esforço a sociedade nos ensina desde criança a bancarmos o homem/avestruz que enfia a cabeça no buraco das ilusões e brinca de faz de conta que tudo está resolvido.

Vamos criar tempo para o que interessa de fato a cada um de nós e a todos?

Até logo mais.

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