Em situações extremas costumamos escancarar a realidade da nossa intimidade; muito diferente ás vezes daquela personalidade que exibíamos para o público externo – Isso vale também para o comportamento da sociedade em geral – sob certos estímulos nós mostramos exatamente quem somos como pessoas e grupo. Exemplo no caso do Haiti – Quanto á população atingida a preocupação atual do resto do mundo se direciona especialmente para a vulnerabilidade das crianças - e não apenas quanto á falta de comida, água e atendimento médico; mas quanto ao seu futuro imediato. A preocupação com a condição social reflete-se nos saques ao que restou; agressões; banditismo; desvio da ajuda; guerra de gangues – Que não pareça que o povo haitiano está em julgamento; claro que não. Devemos apenas aproveitar o momento para reflexões – No tocante ao desvios do comportamento, o problema que reflete a falta de qualidade humana decorrente de uma educação pouco correta; não é apenas local; pois até mesmo com relação aos que lá estão para ajudar as máscaras de alguns interesses já começam a cair: jogo de poder; orgulho; tentativa de domínio; etc. Para ilustrar, essas manifestações do nosso ego; ocorrem até em situações familiares de morte em família – o defunto nem bem foi enterrado e já começa as picuinhas e disputas pela herança – e o pior, quanto menor herança maiores as encrencas – o caso do Haiti ilustra bem nossa condição como candidatos a seres humanos – O que os herdeiros ilegítimos vão ganhar (no caso obras de reconstrução e gerenciamento das riquezas do País? – O Haiti é pobre em recursos naturais a serem explorados sua economia está destroçada (é o país mais pobre das Américas); estava dizimado cultural e socialmente por um câncer político chamado ditadura das oligarquias (família Duvalier Papa Doc, seu filho Baby Doc e asseclas). Sem dúvida os americanos tem uma dívida moral imensa com a população; pois patrocinaram vários exploradores do povo haitiano - resta saber como pretendem resgatá-la e se o farão – mas, não é menor a dívida dos países que funcionavam como “penicos dourados” guardando o espólio de prevaricadores, ditadores e assassinos das esperanças de muitos povos não só do Haiti – até algum tempo atrás nem era preciso dar nome aos bois; mas hoje a concorrência é grande com os chamados paraísos fiscais. Este é um momento especial para que o resto do mundo reflita sobre o papel que cada um representa no contexto planetário tanto no conexo pessoal quanto na condição de povo.
Claro que este não é um drama da vida moderna nem está restrito ao Haiti:
Aproveitar-se do outro; agredir; bater; machucar; denegrir; provocar; afrontar; vingar..., são doenças da alma humana tão antigas quanto a capacidade de escolher para decidir entre uma coisa e outra. Originam-se do egoísmo, orgulho, inveja e medo, nada bom nem mau; apenas características decorrentes do processo natural de aprender a discernir entre uma polaridade e outra, entre mansuetude e violência por exemplo.
Claro que o poderoso instinto de defesa ou de sobrevivência faz com que as pessoas reajam quando são atacadas, ou de forma mais sutil: quando seus mais imediatos interesses financeiros e de poder são contrariados. O animal reage do jeito que sabe quando em perigo; mas, não cultiva nem remói desejos de vingança, nem retalia ou rouba. Entre nós, o orgulho ferido e o egoísmo exacerbado impedem que exercitemos a arte do perdão que acompanha a boa educação; aquela centrada em valores e que é um remédio natural para curar a agressividade e a violência.
O pacífico pensa, reflete e age segundo as leis que regem o progresso; já o violento e agressivo reage, e até atua, sob o domínio das emoções e sentimentos contrários ás leis da vida.
Um dos maiores entraves á educação dos povos é a ignorância da lei de retorno; doença moral que acomete boa parte da população mundial.
Somos malucos: Almejamos felicidade; quando ainda semeamos sofrimento...
Ao nos fixarmos apenas no momento presente, não compreendemos nem desejamos enxergar que, a situação ou o outro, são as ferramentas que nos devolvem o que provocamos ontem, inexoravelmente, quando não modificamos a tempo a causa que deu origem aos efeitos. Se apenas reagimos quando já é possível agir, criamos desejos de vingança ou retaliação, e não percebemos que o “troco” vem dia menos dia. A lei do “olho por olho, dente por dente” é a marca registrada do pouco evoluído. Fixados nessa fase exteriorizamos com atitudes violentas de todas as formas possíveis; até começarmos a raciocinar e a exercitar a arte de nos colocarmos no lugar do outro para que aprendamos a perdoar (marca registrada do homem integral).
Desculpas e justificativas não serão mais aceitas; no mundo contemporâneo a ignorância da lei de causa e efeito e a de retorno pode ser considerada uma atitude voluntária que chamam de pecado na religião. Usando essa linguagem: peca quem quer e deseja. O conceito é simples: afrontar a lei conhecendo-a, intencionalmente, imaginando estar acima dela, subtraindo-se de suas penas.
Parece um paradoxo; mas outro entrave de peso é o sistema de crenças - Século vai século vem e as atrocidades praticadas em nome de Deus continuam cada vez mais sutis e tão escabrosas quanto nas idades antigas. Pois, o pensamento mágico de crer em sorte, azar, destino e perdão sobrenatural nos mantém num patamar de agressividade incompatível com o presente. Estamos condicionados a imaginar que a violência não gera violência segundo o dogma que Deus tudo perdoa; quando na realidade Ele nada perdoa sem que reparemos o mal feito. Usando como desculpa os dogmas e as crenças tentamos camuflar de todas as formas a agressividade na tentativa de enganar as leis da vida.
Também não nos libertamos dos instintivos sistemas de defesa do ego.
O medo de morrer, perder ou sofrer são agentes propulsores da agressividade. Embora o desejo de vingança e de retaliação (subprodutos do orgulho) sejam os principais componentes da violência; e são alimentados pela sensação de perder algo para o outro ou sofrer impedimentos aos desejos. Em situações de calamidade, as imagens da TV nos mostram o comportamento primitivo ou infantil de grande número de pessoas – Quando falta educação, Isso, é muito forte na mente; pois o subconsciente comanda as atitudes, e como seus mecanismos de contenção não estão formados, a pessoa defende com unhas, dentes, tapas e empurrões seus interesses, que para ela são os mais legítimos. Mesmo para os que se encontram na situação de telespectadores; a explicação está nos seus próprios lares – exemplo, a criança briga com os irmãos por egoísmo – nesse caso, os adultos podem ir á loucura, mas não adianta gastar horas argumentado para a criança dividir suas coisas e abra mão de seus interesses em favor do outro; é preciso exemplificar e aguardar o concurso do tempo – como não fazemos isso; fica complicado imaginar como nos portaríamos numa situação semelhante á que observamos com olhos críticos onde adultos se espancam quando bastaria dividir.
E quando os desastres naturais em larga escala começarem a colocar os povos teoricamente mais evoluídos á prova – Como vão se comportar seus cidadãos tanto no pessoal quanto no coletivo?
Nesta primeira parte de tão interessante assunto, deixamos aos leitores uma questão: na qualidade de assistentes, leitores deste drama em movimento – Como conseguiremos sustentar nossos pontos de vista atuais - se estiver programado para nós alguma experiência semelhante?
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