Fui intimado a parar de falar sobre perdão – um amigo meu, mandou um e-mail dizendo que não me perdoaria se continuasse com o assunto. Ele tornou-se adepto da teoria da molecada: “ema, ema, ema..” – seu sonho é iluminar-se – mas, para ter um monte de mariposas volitando em torno dele...
Em homenagem a ele, encerro o assunto com este – o próximo será sobre meu cachorro vidente.
Para início de conversa, uma dica: Nunca peça a Deus virtudes; pois, ganhará apenas ferramentas para conquistá-las.
Características de personalidade que dão bons frutos na qualidade de vida; não as ganhamos de presente ou dote – são conquistas de dia a dia ao longo do processo evolutivo.
Há exercícios para tudo, até para desenvolver: paciência, tolerância, humildade, mansuetude, abnegação, etc.
Nossas capacidades podem ser desenvolvidas de forma consciente e metódica, e, nessa tarefa todos os sentidos devem ser empregados.
Conforme já dissemos nos últimos artigos:
Perdoar e ser perdoado é uma atitude tão intrínseca à vida humana como o pensar de forma contínua; quanto mais se desenvolve a capacidade de pensar, mais evidente fica que, perdoar é uma das atitudes mais inteligentes que podemos tomar.
Na vida toda escolha traz consigo uma relação custo/benefício, devido a esse fato; investir apenas alguns minutos do dia no treinamento para aumentar a capacidade de perdoar só traz lucros.
Nessa tarefa, um dos primeiros passos é:
Identificar a ofensa.
Muitas vezes, por falta de atenção e de treino, nós nos sentimos ofendidos; sem mesmo conseguirmos identificar quem foi o responsável e de que forma nos ofendeu. Apenas, pegou, bateu, doeu – estilo mal estar que não sabemos explicar.
Como nem sempre é possível analisar a ofensa no exato momento em que ocorreu; é bom anotar logo após sua percepção; para que mais tarde ela possa ser estudada.
Estudo da ofensa.
O ideal é reservar um momento diário para isso.
Num local calmo devemos nos preparar, pois é uma tarefa das mais importantes.
Bom começar com uma reflexão inicial tipo leitura rápida ou oração. Refletir sempre nos eleva o padrão vibratório o que facilita a compreensão dos fatos e ajuda a discernir melhor.
Identificada a ofensa:
• Estudar como se deu o fato e quais as condições que o precederam.
• O que ocorreu.
• E o que aconteceu depois.
Qual foi o agente da ofensa:
• É importante definir se é íntimo ou externo. Nossos defeitos de caráter sempre são os agentes diretos ou indiretos da sensação ou da interpretação dela.
Análise da ofensa:
• Deve-se identificar o tipo. Direta ou indireta. Intencional ou sem intenção. Qual foi o agente que a patrocinou, a situação criada, uma palavra, a atitude, etc.
• Quais as emoções envolvidas ou que afloraram no momento: inveja, despeito, medo, orgulho, egoísmo, vaidade, impotência, impaciência.
• Quais as que persistiram após o fato: mágoa, ressentimento, ira, cólera, ódio, desejo de vingança, desejo de matar ou de que a pessoa desapareça.
• Qual foi minha participação na situação. Que papel desempenhei no desencadear da situação. Durante o ocorrido, participei de forma ativa, reagi à ofensa, sintonizei com ela, permaneci numa atitude passiva ou me posicionei como vítima.
Estudo da personalidade de quem nos ofendeu
Sempre que nos sentimos ofendidos; houve a participação de alguém; e, mesmo de forma superficial é possível conhecer alguma coisa sobre essa pessoa. Isso, pode ser de grande valia na descoberta de nós mesmos.
• Anotemos os defeitos do desafeto que mais chamaram a atenção – é possível que tenhamos nos projetado nele; ele nos espelha.
• Também as qualidades de quem nos ofendeu devem ser avaliadas; pois, elas podem ter contribuído para a percepção da ofensa; é comum que qualidades que sobram nos outros; e que ainda não detemos nos ofendam através da inveja.
Estudo da nossa personalidade.
Conhece-te a ti mesmo, é base para desenvolver o hábito de perdoar. Somos ao mesmo tempo causa e efeito; e do estudo das ofensas podemos identificar nossos defeitos de caráter que imantaram o processo; e que podem ser chamados de agentes indiretos da ofensa.
Cada característica possui sua ofensa complementar. Exemplo, se a ofensa causou-me humilhação, o imã que a atraiu foi meu orgulho. Depreciado, foi a vaidade. Ignorado, a impaciência, etc.
Algumas ofensas tem a capacidade de expor e de burilar vários defeitos de caráter ao mesmo tempo.
Definir responsabilidades.
Após o estudo da situação, é preciso cuidado para não julgar o mérito da questão; pois somos juizes parciais - quase sempre daremos ganho de causa a nós ou aos nossos.
Lembra da teoria do ema, ema, ema?
É bom definir apenas a nossa responsabilidade no ocorrido; analisar a do outro não nos cabe; e não é nossa tarefa.
É nosso dever treinar a empatia; se estudarmos a personalidade do outro e sua forma de agir e reagir; basta inverter as posições: Como reagiria eu à situação se fosse ele?
Uma boa política para melhorar a produtividade é a democracia para com os defeitos do próximo e a ditadura para com os nossos.
Escolher a metodologia.
Podemos usar vários métodos separados ou associados.
• Natural.
A natureza atua no sistema do simples e fácil, copiá-la é interessante para não deixar acumular.
Os resultados são progressivos; pois não é de um momento para o outro que, agredidos numa face; somos capazes de oferecer a outra; isso, exige treino e tempo para compreendermos que esta atitude é corajosa e sábia.
• Antecipar-se.
Toda sintonia de desequilíbrio é bilateral. O que definimos como ofensa gratuita que o outro nos fez, visto e analisado pelo lado dele pode ser uma forma de reagir à que lhe causamos; até sem perceber, pois, nem sempre ela é explícita e se materializa num tipo de agressão objetiva.
Quando começamos a pensar em perdoar, nós iniciamos o processo de desmontar a sintonia de vibrações inadequadas; definindo nossas responsabilidades, antecipando-nos.
• Forma gradual.
Como a energia do pensamento irradia-se; vale a pena iniciar o trabalho de perdoar por e-mail mental; sem aguardar resposta pronta e imediata; pois, nem sempre o outro vai captar ou decifrar a mensagem.
Nossos conflitos entre razão e emoção influenciam na eficiência; pois, irradiamos estados contraditórios de querer, que impedem a mensagem de chegar ao destinatário.
Essa, é a fase de perdão condicional: penso, mas não sinto; a seguir é possível pensar e sentir: perdão incondicional.
Costumamos desistir antes de começar, por isso, é preciso cuidado em descartar a possibilidade de chegar à fase do perdão incondicional, todos nós somos capazes de atingi-lo dia menos dia. Como exemplo, vale lembrar que para os filhos é mais fácil perdoar incondicionalmente as ofensas da mãe; do que as provocadas pelo pai, mas com esforço um belo dia seremos capazes perdoar as atitudes paternas tal e qual fazemos com as das mães.
Colocar em prática.
Definida a ofensa. Estudados os seus mecanismos. Conhecidas as características de quem nos ofendeu. E, analisados os defeitos do nosso caráter que participaram de alguma forma do processo. É hora de movimentar a capacidade de perdoar; pois, pensar e sentir não basta, é preciso criar atitudes.
Reflexão: Chega de falar sobre seriedades banais e vamos falar sobre banalidades sérias. Na próxima: meu cão vidente.
Pois vou intimá-lo a continuar a falar sobre o perdão.
ResponderExcluirEstava adorando a série, que me levou a muitas reflexões interessantes.